terça-feira, 7 de maio de 2013

CRÔNICA DO DIA: PARE O TREM QUE EU QUERO DESCER



Leis urbanas feitas aos trancos e barrancos, a toque de caixa, para atender interesses específicos, mas que não representam os reais interesses da municipalidade. A Cidade vem crescendo, mais do que as expectativas, e os problemas se multiplicaram na mesma ordem, ou melhor dizendo, na mesma desordem.
Carros e mais carros para poucas estradas, para poucas rodovias, para poucas ciclovias e para pouca qualidade de vida. Quem diria que o trânsito na Ilha viria a se tornar tamanho transtorno aos locais, veranistas e visitantes? Na linha final um porto... E a carga pesada disputando o espaço geográfico, que é limitado. Dificuldade de locomoção a cada metro, a cada quilômetro, sendo que nem as sirenes abrem espaço na hora de salvar uma vida.
O saudoso trem de passageiros, de trem da alegria passou a ser trem fantasma, trem do terror. Um ritmo frenético a todo instante, contaminado o ar, ensurdecendo os ouvidos e nunca deixando a poeira de soja podre baixar, só o aroma fétido no ar. Um cenário que nos remete a Cidade inglesa de Manchester, no século XVIII, quando as recém-surgidas máquinas a vapor traziam o “progresso” e, com elas, as más condições de vida e más condições sanitárias.
Estamos no meio de um processo de mudança econômica, social e urbana, sem que muitos consigam enxergar esta transição. Acabam apenas sentindo na pele as consequências, sem que percebam as verdadeiras causas. É a terceira Lei de Newton na prática, ou seja, toda a ação gera uma reação. E a reação é em cadeia. Não tem como escapar.
Antes era tudo paz e amor na Ilha papa-berbigão. Uma tranquilidade que só! Se deslocar era uma beleza! Lugar para estacionar? Bobagem, tinha de sobra. Que tempos áureos para se andar de bicicleta sem ser incomodado. De carrinho de rolimã também. Carroça então, nem se fala. Uma pelada aqui, uma pelada ali, pois campinhos de várzea e terrenos baldios não faltavam. Como era bom matar a sede nas inúmeras cariocas e bicas de água limpa. A gente era feliz e não sabia.
Até que um dia chegou esse trem de progresso, indústrias, milhares de empregos (aonde?), migração em massa, grilagem e invasão de terras, favelização, criminalidade (palavra que não existia em nosso dicionário), e por aí segue o enterro. A Cidade não se preparou, não se planejou e não olhou para o futuro como devia. E daí, deu no que deu.
O crescimento acelerado e descontrolado continua. O trem andando cada vez mais rápido. E nós, estáticos ou no mesmo ritmo frenético, olhando o trem passar. Peraeeee! Pare esse trem que eu quero descer!

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