sexta-feira, 21 de junho de 2013

OPINIÃO: O GIGANTE ACORDOU... DO PESADELO NEOLIBERAL



Até agora, os intelectuais, especialistas e tecnocratas especulam, no afã em compreender o fenômeno da onda de protestos que se sucede, de forma inesperada, tomando as avenidas das grandes capitais, onde a vida já é insuportável e, frente a tanta inércia política, só resta mesmo ir para as ruas e barganhar algum direito à cidadania e alguns centavos.
No fundo, é o sonho neoliberal que cai por terra, justamente quando o país é comandado por um governo “trabalhista”, que, em mais de uma década de poder, foi incapaz de realizar as reformas necessárias, ou pelo menos dar alguma promissora perspectiva de mudança, que fizesse o povo crer que daqui pra frente tudo seria diferente. A ideia de uma sociedade mais justa e igualitária foi esmagada pelo rolo compressor da corrupção e da gritante concentração de renda.
Na era da globalização, do neoliberalismo, da sociedade de consumo e do individualismo não há lugar para o Estado de direito e igualitário. Principalmente num país com cultura politicamente medíocre, como é o caso do Brasil, em que o voto é moeda de troca e barganha. Neste contexto, para que o sistema político se sustente ele necessariamente tem de ser corrupto. É como um ciclo vicioso, numa simbiose entre corruptor (político) e corrompido (povo). Um depende e não vive sem o outro. 
Quando os manifestantes se colocam contra ou impedem a presença de bandeiras partidárias nos protestos, primeiro, o que está se demonstrando é ojeriza em relação ao sistema político e, segundo, exorcizando a própria culpa, por contribuir e ser cúmplice com este mesmo sistema que ajuda a reproduzir. Mas, é um erro impedir que partidários se manifestem, com suas ideologias e bandeiras, pois também são muitos os que lutam de forma honesta e coerente, através das agremiações, inclusive para moralizá-las internamente. O problema não está nas agremiações e sim no sistema neoliberal.
Outro ponto importante é a questão do poder da rede (internet), neste processo. Na verdade o assunto de que se trata é a quebra do monopólio da grande mídia, representada, principalmente, pela mídia televisiva. O que se demonstra é o fim do controle da informação pelas grandes emissoras, as quais, desde a ditadura militar, permitiam que houvesse a passiva “unidade nacional” em um país continental. Sem dúvida, a internet, em especial, a rede social, rompeu com este controle para estabelecer uma nova ordem ou identidade política, de norte a sul, sem que a informação viesse a ser propagada por um único meio ou canal. Só restou às redes de tevês também aderirem aos manifestos, sob a velha retórica democrática da liberdade de expressão.
O que virá daqui pra frente e o resultado disto tudo, por enquanto impossível prever. Pode ser apenas uma onda, que quebre na praia e se desfaça. Quem sabe, uma nova estratégia manipuladora venha a absorver os movimentos, com novas promessas, e as coisas voltem à “normalidade”. Até quando e em que proporção se manterão os protestos, ainda é uma incógnita. A única certeza é de que uma barreira foi rompida e que o amanhã ainda está por fazer. Se os acontecimentos servirem, de fato, para aprofundar o debate político no Brasil, com o povo como o principal protagonista, podemos começar a ter, aí então, uma esperança renovadora de país melhor.  


       

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